A carne bovina brasileira está novamente no centro das atenções. Desta vez, o alerta veio após três frigoríficos do país serem temporariamente desabilitados pela China — o maior importador do produto — por apresentarem resíduos de medicamentos veterinários acima dos limites permitidos. O caso envolveu o fluazuron, um antiparasitário amplamente utilizado no combate ao carrapato, mas que exige rigor absoluto no respeito ao período de carência antes do abate.
Esse episódio reacende uma preocupação central da cadeia produtiva: como garantir que a carne brasileira chegue ao consumidor, nacional e estrangeiro, livre de qualquer resíduo que possa comprometer a saúde pública ou a imagem do país como potência agroexportadora?
Uso consciente de medicamentos: responsabilidade que começa no campo
No manejo moderno da pecuária, o uso de medicamentos veterinários é prática comum e necessária. Antibióticos, antiparasitários e vacinas são fundamentais para garantir o bem-estar animal, evitar surtos sanitários e manter a produtividade. No entanto, o uso indiscriminado ou desatento a normas pode se transformar em problema.
A chave está no chamado período de carência, que determina o intervalo entre a última aplicação do medicamento e o abate do animal. Esse prazo garante que o princípio ativo seja completamente metabolizado ou eliminado do organismo, impedindo a presença de resíduos na carne.
“Não é falta de produto ou tecnologia, é falta de atenção e conscientização. Basta seguir a bula”, afirma o médico-veterinário Emílio Salani, vice-presidente executivo do Sindan (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal).
Impactos dos resíduos na carne
Resíduos de medicamentos não apenas representam riscos à saúde humana — como alergias, resistência antimicrobiana e outras reações adversas — como também provocam perdas econômicas e danos à credibilidade da carne brasileira no exterior. Mercados exigentes, como o europeu e o asiático, têm tolerância zero para esse tipo de falha.
Como garantir carne limpa e segura?
A prevenção começa com a implementação de boas práticas de manejo sanitário. Veja as principais recomendações:
- Aplicação com orientação profissional: medicamentos só devem ser usados sob prescrição veterinária.
- Respeitar a carência: seguir à risca o tempo indicado na bula para abate.
- Nutrição e bem-estar: rebanhos bem alimentados e manejados ficam menos doentes.
- Registro e rastreabilidade: cada aplicação deve ser anotada com data, dose e medicamento usado. Isso facilita o controle e o planejamento do abate.
- Ambiente saudável e limpo: reduzir riscos evita a necessidade de tratamentos frequentes.
Alternativas naturais ganham espaço
Nos últimos anos, produtores têm adotado métodos alternativos ao uso intensivo de medicamentos, como:
- Homeopatia e fitoterapia;
- Uso de probióticos e prebióticos;
- Manejo integrado de pragas e doenças.
Essas soluções visam não apenas reduzir resíduos na carne, mas também promover maior bem-estar animal e sustentabilidade.
Fiscalização e responsabilidade do produtor
O Brasil possui legislação rigorosa, regulada pelo Ministério da Agricultura (MAPA) e pela Anvisa, além das exigências de países importadores. Cumprir essas regras é dever dos produtores e essencial para manter o acesso aos principais mercados.
Sanções, perdas comerciais e danos à imagem do produto brasileiro são apenas algumas das consequências para quem negligencia as normas.
Conclusão: segurança e qualidade andam juntas
Com o mercado internacional cada vez mais exigente, produzir carne de qualidade deixou de ser uma opção — é uma necessidade. O uso consciente de medicamentos, a atenção às boas práticas sanitárias e o compromisso com a rastreabilidade são fundamentais para proteger a saúde do consumidor e garantir o futuro da pecuária brasileira no cenário global.
A responsabilidade começa no campo. E o produtor brasileiro tem em mãos as ferramentas e o conhecimento para fazer parte de uma nova era de segurança alimentar, rentabilidade e confiança.