A Câmara Municipal de Campo Grande aprovou o projeto de lei do vereador Veterinário Francisco que proíbe o comércio, transporte e produção da Murraya paniculata – popularmente conhecida como murta de cheiro ou “dama da noite” – uma planta até então valorizada por sua beleza e perfume, mas que se revelou uma grande ameaça à citricultura brasileira.
A decisão foi recebida com entusiasmo pela Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc) de Mato Grosso do Sul. O titular da pasta, Jaime Verruck, destacou a importância da medida para a proteção da atividade agrícola no Estado. “Campo Grande é a cidade com a maior concentração de plantas dessa espécie, que, como sabemos, é a principal hospedeira de uma praga que dizima as plantações de cítricos. Ao aprovar a lei, os vereadores e toda a cidade sinalizam que estão envolvidos no esforço iniciado pelo Governo do Estado para dar segurança aos citricultores e tornar Mato Grosso do Sul um potencial polo produtor de cítricos”, afirmou Verruck.
A proposta segue agora para sanção da prefeita Adriane Lopes. Caso seja sancionada, a nova legislação prevê multa de R$ 1 mil para quem for flagrado plantando, comercializando, transportando ou produzindo mudas de murta na capital. O valor será corrigido pelo IPCA e dobrado em caso de reincidência.
Além da proibição, o texto determina que a Prefeitura elabore um plano de erradicação das murtas já existentes, começando pelas áreas públicas — como calçadas, canteiros centrais, praças, parques, margens de córregos e terrenos institucionais — e, posteriormente, avançando para os imóveis particulares.
A planta bonita que virou ameaça
Originária de regiões mediterrâneas, a murta de cheiro é uma planta ornamental de folhas perenes e aroma marcante, muito utilizada na arborização urbana. No entanto, sua associação direta com o psilídeo-da-laranja — inseto transmissor do greening, considerada a doença mais devastadora da citricultura mundial — fez da planta um risco urgente a ser eliminado.
Karla Nadai, coordenadora de Citricultura da Semadesc, explica o perigo: “Essa espécie vegetal se constitui a principal hospedeira do psilídeo da laranja, um pequeno inseto transmissor do greening, a pior doença dos cítricos. Essa praga já dizimou os pomares dos Estados Unidos e, no Brasil, comprometeu pelo menos 50% das lavouras de cítricos de São Paulo, o maior produtor nacional, com cerca de 400 mil hectares de pomares.”
E mesmo distante das plantações, a murta representa perigo, como esclarece Karla: “O psilídeo consegue voar livremente por cinco quilômetros e, se impulsionado por uma corrente de ar, pode percorrer até 20 quilômetros. Por essa razão, o correto é erradicar todas as plantas de murta, mesmo dentro das cidades.”
MS como polo emergente da citricultura
Com mais de 20 mil hectares de pomares já plantados e previsão de alcançar 30 mil até o fim deste ano, Mato Grosso do Sul desponta como nova fronteira da citricultura nacional. A iniciativa do Governo do Estado de erradicar a murta, somada à política de destruição das plantas cítricas contaminadas, é pioneira no Brasil — o que vem tornando o Estado especialmente atrativo para investidores e produtores.
Além disso, desde 2023, o governo mantém um acordo de cooperação com o Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura), que contratou um engenheiro agrônomo exclusivo para acompanhar os produtores sul-mato-grossenses no combate ao greening e no manejo adequado das lavouras.
A lei municipal aprovada em Campo Grande se soma às legislações semelhantes já em vigor nos municípios de Três Lagoas e Dois Irmãos do Buriti. Propostas idênticas também tramitam em outras cidades do Estado. E em agosto de 2024, o governador Eduardo Riedel sancionou a Lei nº 6.293, que proibiu a murta em todo o território estadual.
Com ações conjuntas entre os poderes públicos municipais e estaduais, Mato Grosso do Sul avança no fortalecimento da sua citricultura, combatendo de forma preventiva as ameaças que colocam em risco esse setor estratégico da economia agrícola.
Fonte: Alô Mídia/Campo Grande
Texto: Angela Schafer com informações da Semadesc
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