O caso de um profissional da saúde que foi mordido por um paciente durante um surto psicótico em Dourados, região sul do Estado, chamou atenção na última semana e levantou uma discussão pertinente sobre o caso: A segurança em unidades de saúde e dos próprios profissionais que atendem nesses locais.
O incidente aconteceu enquanto o profissional aplicava medicação. O paciente, diagnosticado com esquizofrenia, aguardava vaga na ala psiquiátrica do Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU/UFGD). O episódio escancara uma realidade cada vez mais presente nas unidades de saúde: a crescente onda de violência contra quem está na linha de frente do cuidado com a vida.
Dados do Conselho Federal de Medicina (CFM) revelam que Mato Grosso do Sul ocupa a 10ª posição no ranking nacional de violência contra médicos. Somente em 2024, já foram registrados 134 boletins de ocorrência no estado. Em todo o país, mais de 4.500 agressões já ocorreram neste ano — o equivalente a uma a cada duas horas — dentro de hospitais, clínicas, prontos-socorros, consultórios e demais ambientes de atendimento, públicos e privados.
A advogada Stephanie Canale, especialista em Direito Médico-Odontológico e referência na defesa jurídica de profissionais da saúde em MS, reforça que episódios como esse precisam ser tratados com seriedade e respaldo legal.
“O primeiro passo é registrar um boletim de ocorrência e formalizar o caso no prontuário médico. Também é fundamental comunicar a instituição e reunir provas — como fotos, vídeos e testemunhos. O silêncio, nesse contexto, coloca outros profissionais em risco”, adverte.
A responsabilização do agressor, em situações como essa, depende de avaliação psiquiátrica que determine sua imputabilidade. Caso o paciente seja considerado inimputável, os responsáveis legais podem ser acionados judicialmente, tanto na esfera cível quanto criminal.
“Mesmo durante um surto, a agressão deixa marcas. O profissional pode — e deve — buscar indenização por danos físicos, morais e à imagem. Além disso, tem direito a trabalhar em condições mínimas de segurança e a receber apoio psicológico após episódios traumáticos”, enfatiza Dra. Stephanie.
A especialista lembra que agressões verbais, físicas ou virtuais devem ser denunciadas aos Conselhos de Classe e ao Poder Judiciário, garantindo que os responsáveis sejam punidos. Para ela, o enfrentamento à violência exige ações institucionais concretas e urgentes.
“A agressão a um profissional da saúde não fere apenas o indivíduo: compromete o funcionamento ético, humano e seguro de todo o sistema. É urgente investir em protocolos de proteção, responsabilização jurídica e acolhimento dos profissionais agredidos”, conclui.
Fonte: Alô Mídia/Campo Grande
Texto: Angela Schafer
Foto: Divulgação