Taxa de 50% imposta por Trump ameaça exportações do agro brasileiro

A decisão dos Estados Unidos de impor uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil a partir de 1º de agosto de 2025 acendeu um sinal vermelho no setor mais estratégico da economia brasileira: o agronegócio. A medida, assinada pelo presidente Donald Trump e comunicada oficialmente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, representa um duro golpe às exportações brasileiras e pode gerar consequências em cadeia para o campo e para a economia como um todo.

De acordo com Frederico Franco, especialista em riscos, compliance e auditoria, a tarifa compromete diretamente a competitividade do agro brasileiro no mercado norte-americano, atingindo em cheio produtos como café, carnes e suco de laranja.

“É como se adicionássemos um pedágio extra no preço final. Um produto brasileiro que custa US$ 100 passa a custar US$ 150 para o consumidor americano. Isso torna nossos produtos muito menos atrativos”, explica Franco.

Café, carnes e suco: setores em alerta

O impacto é especialmente grave para produtos em que o Brasil lidera com folga. O país responde por 32% do mercado de café nos EUA, além de ter registrado um crescimento de 113% nas exportações de carne bovina para o país nos últimos anos.

Com a nova tarifa, uma tonelada de carne brasileira, que hoje custa cerca de US$ 5.700, pode chegar a US$ 8.600 no mercado americano — um aumento que pode inviabilizar completamente a presença brasileira no setor.

“Essa é uma medida com potencial de desestabilizar uma das poucas áreas em que o Brasil é, de fato, uma potência global: o agronegócio”, alerta o especialista.

Câmbio, insumos e o efeito dominó

Além da barreira tarifária, o anúncio provocou uma alta imediata no dólar, encarecendo os insumos agrícolas — muitos deles importados, como fertilizantes e defensivos. O resultado, segundo Franco, é um efeito dominó: o produtor brasileiro gasta mais para produzir e passa a ter menos margem para competir no exterior.

“Estamos diante de um ciclo vicioso: insumos mais caros e perda de competitividade externa. Quem paga essa conta, no fim das contas, é o Brasil produtivo”, afirma.

Três caminhos para o Brasil

Diante do cenário, Frederico Franco aponta três possíveis caminhos para o governo e o setor produtivo:

  1. Solução diplomática – “É o mais viável e já está sendo articulado pela Frente Parlamentar da Agropecuária. O Brasil precisa tratar isso com urgência e firmeza no campo político e comercial.”
  2. Diversificação de mercados – Apostar em destinos como Europa e Ásia para escoar a produção.
  3. Represália comercial – Embora possível, é considerada uma alternativa delicada, que poderia gerar mais instabilidade.

“Essa é uma decisão política, não técnica. E precisa ser enfrentada com diplomacia estratégica, antes que se transforme em um retrocesso comercial de longo prazo”, conclui.

Geopolítica e retaliação velada

A decisão do governo Trump ocorre em meio à cúpula do BRICS no Rio de Janeiro e a recentes posicionamentos políticos do governo Lula. Bastidores diplomáticos interpretam a medida como uma retaliação à postura do Brasil dentro do bloco dos países emergentes, reforçando a leitura de que a economia brasileira está sendo usada como instrumento em uma guerra de narrativas.

Enquanto isso, o agro — que sustenta o PIB, gera emprego e mantém o Brasil no topo do comércio mundial — vê-se mais uma vez como refém de decisões políticas que ignoram a força de quem produz.