O alívio veio, mas incompleto. Entre os principais produtos que Mato Grosso do Sul exporta para os Estados Unidos, dois escaparam da nova tarifa de 50% imposta por Donald Trump. Celulose e ferro-gusa, que juntos somam uma fatia expressiva do comércio exterior sul-mato-grossense, ficaram de fora da taxação. A carne bovina, no entanto, que lidera as exportações do Estado ao país norte-americano, não teve a mesma sorte.
O decreto, assinado nesta quarta-feira (30) e publicado pela Casa Branca, deixa clara a escolha do governo dos EUA: proteger setores estratégicos sem romper totalmente os laços comerciais com o Brasil. Segundo o texto oficial, “certos metais de silício, ferro-gusa, aeronaves civis e suas peças e componentes, alumina de grau metalúrgico, minério de estanho, polpa de madeira, metais preciosos, energia e produtos energéticos e fertilizantes” não serão atingidos pela nova taxação. Na prática, isso significa que celulose e ferro-gusa, juntos, seguirão cruzando fronteiras sem o peso do tarifaço.
Mas o que parece, à primeira vista, uma simples questão comercial, esconde um pano de fundo mais complexo e grave.
Trump foi além do mercado. Justificou a medida com fortes acusações ao governo brasileiro, citando “ameaças à segurança nacional”, “violações de direitos humanos” e até perseguições políticas. Nominalmente, mencionou o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, acusando-o de “abuso de autoridade judicial” e de “suprimir dissidências”. A resposta norte-americana veio acompanhada de uma declaração de emergência nacional, um passo simbólico e estratégico para acirrar o tom.
Em meio ao conflito diplomático, Mato Grosso do Sul observa o movimento com cautela. No primeiro semestre de 2025, o Estado exportou US$ 315 milhões aos EUA , pouco menos de 6% do total das exportações do período, que somaram US$ 5,2 bilhões. Ainda assim, os norte-americanos são o segundo maior destino das vendas externas sul-mato-grossenses.
A tensão colocou a política externa brasileira em xeque. E trouxe à tona um novo tipo de guerra comercial: a que é travada com argumentos morais, acusações políticas e medidas econômicas que atingem empresas e produtores longe dos gabinetes onde as decisões são tomadas.
Em uma tentativa de conter os danos, uma comitiva oficial do Senado brasileiro esteve em missão nos EUA nesta semana. Liderada por Nelsinho Trad (PSD-MS) e Tereza Cristina (PP-MS), a delegação buscou alternativas diplomáticas para adiar ou suavizar o impacto da tarifa. “Todas as agendas foram voltadas à reconstrução do diálogo político entre os dois Parlamentos e à defesa dos interesses estratégicos do país”, afirmou o grupo em nota.
Mas o futuro permanece incerto. E a pergunta que paira é: até que ponto questões políticas devem interferir em relações comerciais que impactam diretamente a vida de produtores, trabalhadores e toda uma cadeia econômica?
Aparentemente, o tarifaço de Trump é só o começo.
Texto: Angela Schafer