A cerimônia de abertura da Agrishow 2025, realizada no domingo (27), de forma reservada e sem a presença do público, trouxe à tona uma mudança silenciosa, mas significativa, na condução do maior evento do agronegócio da América Latina.
Por um lado, a decisão atendeu a uma demanda antiga dos próprios expositores. Muitos defendem que, ao separar o momento institucional da movimentação intensa dos primeiros dias de feira, é possível estabelecer um diálogo mais produtivo com autoridades, patrocinadores e imprensa, sem a interferência do fluxo de visitantes. Em uma feira cada vez mais voltada à geração de negócios e inovação, o espaço para articulações políticas e corporativas ganha importância — e tranquilidade.
Por outro lado, é impossível desconsiderar o contexto político que ronda o agronegócio brasileiro. O governo federal, ainda que represente oficialmente todos os setores, enfrenta resistência dentro do campo. A relação entre Brasília e o agro tem sido marcada por desconfianças, divergências e, em alguns momentos, distanciamento. A presença do vice-presidente Geraldo Alckmin na abertura — e não do presidente Lula ou do ministro da Agricultura — reflete essa tensão.
E conversando com diversos empreendedores nos estandes ouvimos muitos relatos que comprovam isso.
Evitar o contato direto com o público no momento da abertura pode ter sido uma escolha preventiva. Uma forma de evitar desgastes, protestos ou embates que comprometessem a imagem institucional da feira e desviem o foco de sua vocação principal: o desenvolvimento do setor.
Mais do que um rearranjo de agenda, a abertura no domingo, sem público, revela o esforço da organização em preservar a neutralidade da Agrishow. Em tempos em que o agronegócio se tornou, também, território de disputa ideológica, manter a feira como espaço de negócios, tecnologia e progresso exige cada vez mais estratégia, silêncio e bastidores.
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