Agro bate recordes históricos, mas enfrenta políticas públicas que travam seu crescimento, alerta especialista

Marcos Jank, do Insper Agro Global, aponta safra e exportações recordes como pilares da economia, mas critica juros altos, corte no seguro rural e aumento de impostos que ameaçam a sustentabilidade do setor.

O agronegócio brasileiro vive um paradoxo: enquanto colhe safras históricas e lidera o crescimento do PIB, enfrenta um cenário adverso causado por políticas públicas que, segundo especialistas, vão na contramão do desenvolvimento sustentável do setor. A análise é de Marcos Jank, coordenador do Insper Agro Global, que tem acompanhado de perto os impactos dessa conjuntura.

Jank destaca que a safra de grãos em 2025 deve ultrapassar 330 milhões de toneladas, com 113 milhões apenas da safrinha de milho, a maior da história. As exportações do agro também devem bater recordes, superando US$ 180 bilhões, impulsionadas por grãos, carne bovina, suínos, aves, algodão e etanol. “O agro segurou a economia”, diz o especialista, ao lembrar que o setor foi responsável por 25% do crescimento de 3% do PIB no primeiro trimestre, com um avanço de mais de 10% só no agronegócio.

Apesar do desempenho extraordinário, Jank acende o alerta para os riscos impostos por decisões governamentais. Um dos principais entraves é a alta taxa de juros, hoje em 15%, que dificulta tanto o crédito para o Plano Safra quanto os financiamentos de longo prazo, essenciais para expansão e modernização da produção.

Outro ponto de tensão é o aumento da carga tributária sobre os principais instrumentos de financiamento do agro, como LCAs, CRAs, Fiagros e debêntures incentivadas. Na visão de Jank, essas medidas têm potencial inflacionário e afetam diretamente a competitividade do setor no mercado global.

A crítica mais contundente, no entanto, vai para o recente congelamento de 42% do orçamento do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), considerado essencial para mitigar riscos em um setor cada vez mais exposto a eventos climáticos extremos. Com apenas R$ 1 bilhão disponível, o corte de R$ 445 milhões preocupa. “É um valor insuficiente diante da dimensão da agricultura brasileira”, afirma.

Para o especialista, é urgente uma articulação real entre governo e iniciativa privada. “Só com cooperação e previsibilidade conseguiremos manter o agro como força propulsora da economia sem gerar distorções como inflação ou queda na produtividade.”

Enquanto o agro mostra sua força no campo e nas exportações, cresce a cobrança por políticas que estejam à altura da sua importância estratégica para o Brasil.

Fonte: CNN