Vendas da agricultura familiar movimentam R$ 5,1 milhões em MS  

“Pequenos” só na nomenclatura. Dados parciais de 2025 mostram que os pequenos negócios rurais, formados por agricultores familiares de Mato Grosso do Sul já comercializaram mais de R$ 5,1 milhões por meio de políticas públicas de compras institucionais. O levantamento da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural) aponta que os projetos elaborados e protocolados para o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) somam 251 propostas e indicam uma tendência de crescimento contínuo em relação aos anos anteriores. Os resultados expressivos de 2025 são reflexo de um trabalho que já vinha ganhando força em 2024. Naquele ano, cinco municípios concentraram metade do valor total dos projetos elaborados para compras públicas no estado. Sidrolândia liderou com mais de R$ 2,2 milhões em propostas, seguida por Naviraí (R$ 1,13 milhão), Itaporã (R$ 685,8 mil), Coronel Sapucaia (R$ 626,7 mil) e Anastácio (R$ 548,5 mil). O desempenho dessas cidades evidencia a força da agricultura familiar e o papel estratégico das equipes locais da Agraer no apoio técnico, documental e organizacional. Além do crescimento nos números gerais, os reflexos positivos dessas políticas são percebidos diretamente nas propriedades assistidas. A agricultora orgânica Marlene Azambuja, do Polo Agroecológico Oeste, é um exemplo de como os programas públicos vêm transformando a realidade de quem vive da terra. “Estamos investindo em tecnologia, com a construção de um sombrite para otimizar a produção e a irrigação. Acreditamos que isso nos permitirá atender melhor as demandas do mercado e ampliar nosso alcance”, afirma. “Com a ampliação dos programas governamentais e o fortalecimento da organização dos produtores, conseguimos aumentar significativamente o acesso dos agricultores familiares a esses mercados. E, além disso, o trabalho dos técnicos da Agraer no sentido de orientar, acompanhar, ajudá-los a se organizarem para apresentar as propostas e dar um suporte contínuo, tanto na parte produtiva quanto na parte de elaboração dos projetos, escala da produção etc., tem sido decisivo”, destaca a gerente de Desenvolvimento Agrário e Abastecimento da Agraer, Izabel Cristina Pereira. “Participo também dos projetos do PAA e do PNAE. O apoio do Agraer foi fundamental para minha entrada. Em 2023, regularizamos a documentação e emitimos a CAF (antiga DAP), o que me permitiu elaborar e aprovar o projeto do PAA. A aprovação foi comunicada pessoalmente pelo presidente da Agraer durante a Semana do Orgânico na UFMS”, relata Marlene. Em termos de evolução, os números consolidados mostram que o total movimentado pelos dois programas saltou de R$ 5,47 milhões em 2022 para R$ 7,38 milhões em 2023 — uma alta de 34,87%. Já em 2024, esse valor chegou a R$ 11,07 milhões, representando um crescimento de 50% em relação ao ano anterior e mais do que o dobro do registrado dois anos antes. Foram 30 projetos do PAA e 221 do PNAE elaborados ou protocolados apenas nos primeiros seis meses de 2025. O maior volume de recursos está concentrado nos projetos do PAA protocolados (R$ 1.470.215,17) e do PNAE municipal contratados (R$ 1.442.975,97), demonstrando o impacto direto na renda dos produtores familiares em todas as regiões do estado. “Agraer auxilia os agricultores para que eles possam acessar os editais de compras públicas. Isso é feito divulgando, auxiliando e orientando na organização da documentação, na elaboração dos projetos e das propostas, articulando com as associações e cooperativas, e fazendo o acompanhamento técnico e produtivo necessário, para que eles tenham produtos de qualidade, que possam ser vendidos nos programas PNAE e PAA”, explica Izabel Cristina. Já no caso de Marlene, o apoio da Agraer foi também fundamental para sua entrada no PNAE, onde atua de forma individual. “Fiz projetos de venda como produtora sem participação em associações. Fui aprovada por duas escolas e forneço alfaces, couve, rúcula, cheiro-verde, salsa, cebolinha e coentro. Em outubro, completamos três anos de certificação orgânica pelo IBD, um marco importante na nossa caminhada”, afirma. “Com a abertura recente de edital do PAA estadual voltado para compras das comunidades indígenas, a tendência é que esses números aumentem ainda mais. Então, a perspectiva é de crescimento”, finaliza Izabel, reforçando que as políticas públicas não apenas fortalecem a agricultura familiar, mas também ampliam oportunidades, garantem segurança alimentar e promovem desenvolvimento sustentável. Informações: Comunicação Agraer Texto: Angela Schafer Foto: Ricardo Campos Jr

Duas variedades de mandioca para indústria são lançadas em Mato Grosso do Sul

Mais duas variedades de mandioca de uso industrial para o Centro-Sul foram lançadas pela Embrapa no dia 2 de julho, em Naviraí (MS), durante o 5º Dia de Campo da Mandioca promovido pela Cooperativa Agrícola Sul-Mato-Grossense (Copasul). O evento atraiu mais de 300 pessoas, a maioria produtores. Após a fala de boas-vindas do presidente do Conselho de Administração da Copasul, Gervásio Kamitani, os representantes da Embrapa no dispositivo de abertura, o chefe-geral substituto da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA), Carlos Estevão Leite Cardoso, e o chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agropecuária Oeste (MS), Auro Akio Otsubo, destacaram em seus pronunciamentos a importância do trabalho realizado com a cultura da mandioca na região em parceria com o setor produtivo. “O lançamento de uma variedade é só o começo de um processo. Para fazer essa trajetória de lançamento, adoção e uso por parte dos agricultores de forma a provocar efeitos e impactos na sociedade, é preciso parcerias importantes, como essa com a Copasul. A melhor forma de acelerar, aumentar a possibilidade de adoção de uma tecnologia é desenvolver e validar junto com quem vai utilizar. Então essa parceria tem a grande importância de materializar essa ação cada vez mais decisiva de envolver os verdadeiros interessados no processo de geração, validação e difusão de resultados”, afirmou Estevão. Otsubo ressaltou que a diversificação de variedades vem atender a uma das principais demandas dos mandiocultores da região. “Esse é o ápice de um trabalho que se iniciou lá atrás e envolveu essas duas Unidades da Embrapa, a Copasul e outros parceiros. Essas duas cultivares de mandioca voltadas para industrialização vão ser de grande importância aqui para a região, pois se trata de dois materiais extremamente adaptados às nossas condições, com alta produtividade de raízes e elevado teor de amido”, pontuou Otsubo. A apresentação das variedades BRS Boitatá e BRS Ocauçu ficou por conta dos pesquisadores da Embrapa Mandioca e Fruticultura Rudiney Ringenberg, à frente hoje do trabalho de validação das cultivares na região Centro-Sul, e Vanderlei Santos, responsável pelo programa de melhoramento genético de mandioca do centro de pesquisa à época da seleção das variedades. Após sua exposição, Ringenberg homenageou o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura Marco Antonio Rangel, que hoje atua no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e iniciou esse trabalho de validação das cultivares no Centro-Sul do País há quase 20 anos. O evento também contou com a participação do analista da Embrapa Mandioca e Fruticultura Helton Fleck da Silveira, um dos coordenadores da Rede de multiplicação e transferência de manivas-semente de mandioca com qualidade genética e fitossanitária (Reniva) e gestor dos ativos relacionados à cultura da mandioca na Unidade. A programação do evento incluiu outras duas palestras. A conjuntura de mercado para mandioca e derivados foi abordada pelo pesquisador Fábio Isaías Felipe, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP). Em seguida, o agricultor Laercio Della Vechia falou sobre os princípios de uma agricultura sustentável. Na parte da tarde, o público visitou as áreas demonstrativas e conheceu exemplares das novas variedades e das demais lançadas pela Embrapa para a região: BRS CS 01 e BRS 420, de uso industrial, e BRS 429, variedade de mesa (aipim), assim como outros clones em processo de avaliação. CaracterísticasAs duas variedades são altamente produtivas, têm elevado teor de amido e resistência a doenças comuns na região como bacteriose, superalongamento e antracnose, o que reduz a necessidade de agroquímicos. As raízes da BRS Boitatá têm película clara, que permitem sua utilização tanto na produção de amido quanto de farinha, ampliando seu potencial de mercado e beneficiando toda a cadeia produtiva. A variedade é adequada tanto para colheitas precoces quanto tardias, atendendo às necessidades das fecularias que requerem matéria-prima durante todo o ano. Também tem boa produção de material propagativo. Já a BRS Ocauçu favorece uma rápida cobertura do solo e possui porte adequado para plantio mecanizado, o que facilita seu cultivo em larga escala. É adaptada a solos de baixa fertilidade, pode ser utilizada em colheitas precoces quanto tardias e tem boa produção de material propagativo. Também possui teor de matéria seca elevado e estável, duas características desejáveis na produção de amido (principal componente da matéria seca) e na de farinha. ValidaçãoOs dois clones originaram-se de cruzamentos realizados na Embrapa Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas (BA). As plantas resultantes das sementes oriundas desses cruzamentos foram enviadas à Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados (MS). Em seguida, os materiais selecionados foram avaliados em vários ensaios em rede, nos quais se destacaram os clones 2010 55-04 (BRS Ocauçu) e 2010 56-18 (BRS Boitatá), ambos registrados em 2022 e recomendados para o estado de São Paulo. Em 2024, as duas variedades foram registradas para cultivo nos estados do Mato Grosso do Sul e Paraná. Os materiais foram testados e aprovados pelas indústrias mais exigentes, tanto de fécula quanto de farinha, do Centro-Sul. “São produtores que nos dão um feedback de alta qualidade. O comportamento dos materiais está muito estável em termos de produtividade e de produção de amido por hectare, por exemplo”, explica Rangel. O engenheiro-agrônomo, coordenador de produção, da Copasul Cleiton Zebalho conta que recebeu o primeiro lote das duas cultivares em 2022 para experimentação. Com cerca de três anos de multiplicação das variedades em área de cooperado, ele destaca como principal aspecto o fato de serem cultivares para dois ciclos: “Hoje temos dificuldade de material com potencial produtivo para dois ciclos. Torna-se uma alternativa para os nossos produtores terem uma diversificação de cultivares.” A Copasul é, por enquanto, a fornecedora de material de plantio. Ao longo do segundo semestre, novos parceiros serão incorporados ao rol de fornecedores. Mais informações sobre as variedades na matéria da Agência Embrapa de Notícias. Fonte: Alessandra Vale/Embrapa Foto: Alessandra Vale