Mato Grosso do Sul enfrenta uma realidade preocupante em relação ao suicídio. De acordo com dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), foram registradas 212 mortes por suicídio no estado de janeiro até setembro de 2024. O que mais chama atenção nos números é o impacto entre os mais jovens: 71 vítimas eram jovens e 9 eram adolescentes, totalizando 80 casos entre pessoas de até 29 anos.
Jovens em situação de maior vulnerabilidade
Os dados estaduais confirmam a tendência nacional observada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP): entre os indivíduos de 15 a 29 anos, o suicídio ocupa a quarta posição entre as principais causas de morte, ficando atrás apenas de acidentes de trânsito, tuberculose e violência interpessoal.
Esta estatística ganha ainda mais relevância quando analisada junto aos dados do Ministério da Saúde, que mostram um aumento preocupante nas taxas de mortalidade entre adolescentes. Entre 2016 e 2021, houve um crescimento de 49,3% nas taxas de mortalidade de adolescentes de 15 a 19 anos, chegando a 6,6 por 100 mil, e de 45% entre adolescentes de 10 a 14 anos, alcançando 1,33 a cada 100 mil.
Legislação estadual fortalece prevenção
A Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul tem respondido a essa realidade com a aprovação de leis específicas para prevenção e conscientização. A Lei Estadual 5.483/2019, de autoria do deputado Antonio Vaz (Republicanos), institui a Semana de Prevenção e Combate à Violência Autoprovocada: Automutilação e o Suicídio, realizada sempre a partir do segundo domingo de setembro.
“Antes mesmo da lei, tive a oportunidade de apoiar projetos sociais que acolhem pessoas nessas situações, desde crianças a pré-adolescentes e idosos. A Semana vem para abrir esse diálogo, orientar famílias, apoiar profissionais e mostrar que sempre existe saída, porque cada vida tem valor”, afirma o parlamentar.
Setembro Amarelo consolidado no estado
Outras duas importantes legislações são de autoria da deputada Mara Caseiro (PSDB). A Lei Estadual 4.777/2015 institui o Setembro Amarelo de Prevenção ao Suicídio em Mato Grosso do Sul, enquanto a Lei Estadual 6.449/2025 criou a campanha “Setembro Amarelo vai à Escola”, incentivando atividades educacionais sobre prevenção à automutilação e ao suicídio.
“Precisamos falar abertamente sobre o tema, levando a discussão para além de palestras e audiências públicas, reverberando para fora dos muros institucionais”, destacou Mara Caseiro.
UFMS na linha de frente da prevenção
A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) desenvolve importante trabalho preventivo através do projeto de extensão “Acolhimento em saúde mental: promoção da saúde e prevenção de autolesão e suicídio entre jovens”, coordenado pelo professor doutor Jeferson Camargo Taborda.
O projeto oferece atendimento gratuito a jovens entre 13 e 24 anos em situação de vulnerabilidade social, seja através do Serviço-Escola de Psicologia da UFMS ou pela plataforma Rede Pode Falar. Desde agosto de 2024, já foram realizados 317 atendimentos, sendo 225 online e 92 presenciais.
Importância do diálogo familiar
A psicóloga clínica Thaís Marcela Mota, especialista em Comportamento Humano, ressalta que o diálogo dentro das famílias é fator de extrema importância, especialmente porque crianças, jovens e adolescentes têm sentido as emoções com maior intensidade.
“O acesso à informação tem afetado muito a parte emocional, mas a ausência de diálogo é crucial. Os pais precisam conversar e procurar entender os filhos”, explica a especialista.
Sinais de alerta que não podem ser ignorados
A psicóloga também alerta para os sinais de automutilação, que podem preceder tentativas de suicídio. “Muitos jovens batem a cabeça na parede, se cortam, arrancam cabelos. É o início de um processo que pode culminar no suicídio. O ponto principal é ter empatia, saber ouvir e não desmerecer o que eles estão sentindo. Criar a prática da conversa pode mudar esse cenário”.
Rede de apoio disponível no SUS
A saúde mental é parte integrante do Sistema Único de Saúde (SUS), oferecendo diversos serviços gratuitos à população:
Unidades Básicas de Saúde (UBS): O primeiro passo é buscar atendimento com um clínico geral na UBS mais próxima, que pode encaminhar o paciente a um psicólogo ou psiquiatra.
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS): Oferecem atendimento especializado com equipes multidisciplinares, organizados por faixa etária e demandas específicas, como o CAPS Infantil (CAPSi) e o CAPS para usuários de álcool e drogas (CAPSad).
Clínicas-Escola de Psicologia: Universidades que oferecem cursos de Psicologia dispõem de clínicas-escola, onde alunos supervisionados por professores realizam atendimentos gratuitos ou a preços acessíveis.
Centro de Valorização da Vida (CVV): Disponibiliza apoio emocional 24 horas através do telefone 188 ou pelo chat online no site oficial.
Um compromisso coletivo
Os números alarmantes de Mato Grosso do Sul evidenciam a necessidade urgente de ampliar as ações de prevenção ao suicídio, especialmente entre jovens e adolescentes. O estado tem mostrado comprometimento através de legislação específica e projetos universitários, mas a prevenção efetiva depende do engajamento de toda a sociedade.
A valorização da vida e a prevenção ao suicídio são responsabilidades compartilhadas entre poder público, instituições de ensino, família e comunidade. Cada conversa, cada gesto de acolhimento e cada busca por ajuda profissional pode fazer a diferença na vida de quem mais precisa.
Fonte: Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp/MS), Assembleia Legislativa de MS