Pecuária do Pantanal ganha plano estratégico para impulsionar cadeias produtivas com foco em sustentabilidade  

Criação de gado no Pantanal de MS

Com mais de 300 anos presente na tradição no Pantanal, a atividade pecuária agora passa a ser analisada sob um novo olhar. O Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, por meio da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), encomendou um estudo técnico que vai embasar o Plano de Fortalecimento das Cadeias Pecuárias do Pantanal.

O diagnóstico, solicitado pela Secretaria Executiva de Desenvolvimento Econômico Sustentável (Sedes), foi apresentado recentemente ao secretário Jaime Verruck, ao secretário adjunto Arthur Falcette, aos secretários executivos Rogério Beretta (Desenvolvimento) e Ricardo Senna (Ciência e Tecnologia), além das equipes técnicas ligadas aos setores de investimentos e pecuária.

Elaborado pelos consultores Marcelo Rondon de Barros e Janielly Barros, o estudo detalha os principais desafios, identifica oportunidades e propõe ações concretas para fortalecer as cadeias produtivas da região, que ocupa cerca de 27% do território estadual e representa 6,8% do PIB de Mato Grosso do Sul.

Bovinocultura: tradição e força econômica

Principal atividade pecuária da região, a bovinocultura de corte reúne mais de 4,2 milhões de cabeças de gado — o que corresponde a 22,7% de todo o rebanho sul-mato-grossense. Apenas em 2024, a comercialização de bezerros e bois movimentou mais de R$ 5 bilhões, evidenciando o protagonismo do Pantanal como fornecedor de animais magros para engorda e abate.

“O grande foco é a questão da bovinocultura por entender que a atividade é praticada há pelo menos 300 anos no Pantanal. Então precisávamos entender como estava essa pecuária, em cada atividade, e com o estudo isto está respaldado”, afirmou o secretário Jaime Verruck.

O plano propõe medidas como a criação de selos de origem, ampliação da habilitação de frigoríficos para exportação, rastreabilidade do couro e incentivo ao pagamento por serviços ambientais (PSA). “É uma ampliação das ações que a Semadesc já desenvolve, principalmente na bovinocultura, mas foram consideradas inúmeras atividades pecuárias”, acrescentou Verruck.

Diversificação e potencial produtivo

O estudo também abrange cadeias produtivas menos expressivas, mas com grande potencial de desenvolvimento, como a ovinocultura, apicultura, piscicultura, criação de jacarés e equideocultura.

A ovinocultura, por exemplo, mostra sinais de recuperação, com aumento de abates e valorização da raça pantaneira. O plano propõe ações como o reconhecimento oficial da raça, combate à informalidade e criação de protocolos de produção sustentável.

Já a apicultura e meliponicultura se destacam pelo viés ambiental, especialmente após o reconhecimento da Indicação Geográfica (IG) do Mel do Pantanal. No entanto, gargalos logísticos e ausência de estrutura ainda limitam seu avanço. O plano sugere mais assistência técnica, qualificação dos produtores e estudos sobre espécies nativas, além da criação de seguros específicos para a atividade.

A piscicultura, por sua vez, é citada como um setor promissor, embora desafiado por limitações naturais e ambientais. O diagnóstico indica a necessidade de investimentos em genética e manejo sustentável para ampliar a produção. O sistema de criação de jacarés (farming e ranching) também foi contemplado, com foco na geração de renda a pequenos produtores por meio do modelo “headstarting” e no fortalecimento de certificações.

Na equideocultura, essencial para a cultura e logística pantaneira, o plano propõe a promoção da raça pantaneira e incentivo ao registro formal dos animais.

Planejamento estratégico por sub-região

O levantamento considerou 11 sub-regiões do Pantanal — sendo oito no Mato Grosso e três em Mato Grosso do Sul, além da porção localizada no Pantanal do Paraguai. Foram analisados dados de produtividade, infraestrutura das propriedades e programas de incentivo, com base em informações do IBGE, Iagro, Agraer e Senar.

“Foi feito um amplo diagnóstico da pecuária, apicultura, piscicultura, entre outras atividades, para que se pudesse construir um plano de ação. Isso também está dando suporte à estruturação do PSA (Pagamento por Serviços Ambientais) dentro do Pacto do Pantanal. A ideia é justamente realizar um plano estruturado para o fortalecimento das cadeias produtivas”, explicou Verruck.

Produção com responsabilidade ambiental

Além das ações específicas por cadeia, o plano destaca a importância de melhorar a infraestrutura logística do Pantanal, incluindo portos fluviais, aterros e estradas, além da modernização das inspeções sanitárias e integração de políticas públicas que conciliem produção e preservação.

Para o Governo de Mato Grosso do Sul, o grande diferencial do Pantanal está justamente na produção sustentável, que alia tradição, geração de renda e conservação ambiental.

“Temos agora um plano de desenvolvimento específico, com inúmeras ações relativas à região. A ideia com este diagnóstico é olharmos o Pantanal com um olhar diferente para cada uma de suas regiões. Temos dados muito positivos e que até nos surpreendem. Por exemplo, hoje 45% dos animais abatidos estão inseridos em programas do governo estadual, como o Precoce MS ou a Pecuária Sustentável. Isso mostra que estamos no caminho certo: promovendo desenvolvimento com sustentabilidade”, finalizou Jaime Verruck.

Informações: Semadesc

Angela Shafer, de Campo Grande

Foto: Saul-Schramm