Nas horas de pânico coletivo é preciso escapar da gritaria para conseguir raciocinar com alguma lógica. Estamos vivendo um desses momentos.
Se a história é cheia de crises, a história brasileira é uma turbulência contínua, com intervalos de normalidade. Nas minhas seis décadas de vida jamais conheci um tempo em que o Brasil experimentasse harmonia entre Estado e povo, em que vivêssemos com segurança ou tivéssemos a certeza de um futuro melhor. Tudo sempre foi incerteza, insegurança e perdas. No meio disso tudo, de alguma forma, brasileiros sobrevivem e prosperam.
Alguns olham para o passado com saudade, mas quando vivíamos esse passado ele nos parecia tudo, menos promissor. Viver no Brasil é aprender a lidar com crime, malandragem, caos urbano, extorsão governamental, precariedade cultural e a eterna instabilidade financeira, política e jurídica de um Estado que parece estar em processo de iminente implosão. Essa não é a exceção; essa é a regra.
Mas os costumeiros profetas do apocalipse juram que, dessa vez, o Brasil não vai sobreviver e que os brasileiros que ainda não fizeram as malas e partiram para Miami são mal-informados ou otários. Há muito o que dizer sobre isso.
Imaginem alguém que acompanhava a política em 1930, quando Getúlio Vargas liderou o golpe de Estado que hoje é conhecido como “Revolução de 1930”. Imaginem que essa pessoa tinha a esperança de que Getúlio, conforme ele prometia, limparia a sujeira da República Velha e transformaria o Brasil em um país moderno e próspero.
Mas Getúlio governou como ditador. Em reação aos seus desmandos, São Paulo pegou em armas em1932. Esse levante, que ficou conhecido como a “Revolução de 1932”, foi uma guerra civil na qualbrasileiros mataram brasileiros, e a polícia de São Paulo, junto com uma parte do exército, enfrentou as tropas do ditador. Em 1934 o Brasil ganharia uma nova Constituição, mas em 1937 ela seria jogada no lixo quando Getúlio dá outro golpe e cria a ditadura ressignificada, batizada pelos marqueteiros de Estado Novo. Apesar das tentativas de golpe conhecidas como intentona comunista, em 1935, e levanteintegralista, em 1938, o Brasil só se livraria do ditador em 1945. Só que ele volta em 1951 e seu amor pelo poder é tão grande que, em 1954, ele prefere se suicidar a ser deposto.
Aquela pessoa que esperava liberdade em 1930precisou esperar até 1954 para ver o Brasil livre do ditador.
Depois de Getúlio vieram muitas outras tentativas de golpe, a renúncia de um presidente, guerrilha, terrorismo urbano, atentados, trocas de moeda, moratória, mais três constituições e um grande número de governos fracos, pusilânimes, incompetentes e vergonhosos.
Essa é a regra no Brasil e é pouco provável que isso mude. Diante desse quadro, a alternativa que resta a dezenas de milhões de brasileiros é encontrar um espaço de sanidade para construir sua vida, cuidar da sua família e proteger seu patrimônio e sua liberdade da melhor forma possível. Foi o que os meus pais fizeram, é o que eu tento fazer.
Pouquíssimos brasileiros têm a opção de arrumar as malas e transplantar sua vida para outro país. Esse fato parece escapar à compreensão dos analistas do caos que não se cansam de proclamar seu desespero nas redes sociais. “O Brasil acabou e você ainda não foi embora?”, eles gritam.
Menos. Muito menos.
É evidente que o caldo pode entornar e tudo se perder. Essa é uma possibilidade sempre presente na história do Brasil. Há forças trabalhando pelo atraso, produzindo conflito, disseminando ignorância e multiplicando a pobreza. O remédio para isso é trabalhar pela liberdade, disseminar conhecimento e produzir riqueza. É um caminho que requerresiliência, coragem e serenidade, e não histeria e pessimismo descontrolado.
Esse pessimismo caricato não serve nem como estratégia política. É um erro apostar que é preciso que as coisas piorem primeiro para que possam melhorar depois.
O brasileiro não vai conquistar uma vida melhor através da política. É preciso abandonar essa ilusão. O brasileiro vai conquistar uma vida melhor através do seu esforço individual, apesar do Estado, e não por causa dele.
O Brasil melhor – aquele que pessoas como eu acreditam que é possível – será construído pelas pessoas que produzem. Chamamos essas pessoas de trabalhadores, empreendedores ou empresários. As pessoas que produzem são exploradas, desde sempre, por pessoas que chamamos de políticos.
Na posição mais alta estão aqueles que controlam os políticos. Esses você chama do que você quiser.