A tarifa de 50% imposta pelos EUA a produtos brasileiros, válida a partir de 6 de agosto, ameaça causar um colapso na cadeia de exportação de mangas do Vale do São Francisco. A região, responsável por 92% das exportações da fruta, enfrenta incerteza sobre o destino de 36,8 mil toneladas que seriam enviadas aos EUA entre agosto e outubro.
Hidherica Torres, produtora de Casa Nova (BA), recebeu na última semana a notícia de que a exportação programada para os portos americanos foi cancelada.
“Estou com medo da manga ficar jogada no chão e o trator passar por cima. Virar lama”, desabafou.
Mercados alternativos e sobrecarga de oferta
Com a tarifa inviabilizando a venda para os EUA, produtores buscam alternativas na Europa e Canadá. Porém, a janela de exportação da manga brasileira para o mercado americano (agosto a outubro) foi planejada especificamente para atender à demanda norte-americana.
O redirecionamento para outros mercados esbarra em altos custos de produção, logística complexa e excesso de oferta global, já que outros países, como a Espanha, também têm boas safras neste ano.
Segundo o Sindicato dos Produtores Rurais de Petrolina (SPR), a tarifa pode gerar um encalhe massivo de mangas no mercado interno, derrubando preços e comprometendo a viabilidade econômica de pequenos e médios produtores.
Preços despencam no Brasil
No mercado interno, a situação já é sentida. O quilo da manga tommy, preferida pelos americanos, caiu de quase R$ 6 para menos de R$ 0,80.
Cristiano Ferreira, líder da Associação Comunitária dos Agricultores de Malhada Real (PE), afirma que o impacto atinge todos os produtores:
“Todo mundo vai sentir, do grande ao pequeno. Não importa o tipo da manga. O mercado está saturado.”
Com o excesso de oferta, produtores relatam estar doando mangas para empresas de polpas e mercados, apenas para limpar as plantações e evitar desperdício.