Mas, apesar da retração no faturamento, um fato chama a atenção dos pesquisadores: pela primeira vez em anos, os Estados Unidos e a União Europeia dividiram igualmente o volume das exportações brasileiras, com 48% de participação cada. Essa reconfiguração nos destinos pode apontar para um novo cenário competitivo para o suco brasileiro no mercado internacional.
Receita menor, cautela maior
De acordo com os dados da Comex Stat, o volume total exportado foi de 199,7 mil toneladas (em equivalente concentrado), enquanto a receita ficou em US$ 751,3 milhões. Para o Cepea, a queda na arrecadação é reflexo direto da queda nos preços internacionais — influenciada por um aumento na oferta global de suco e pela postura mais cautelosa dos compradores europeus, que enfrentaram problemas de qualidade na safra passada.
Estados Unidos mantém demanda, mesmo com tarifa
Um dos destaques positivos da nova safra foi a alta de 13% nas exportações para os EUA, mesmo com a manutenção da tarifa de 10% sobre o suco brasileiro. Segundo o Cepea, essa movimentação reforça a dependência norte-americana do suco brasileiro, já que o país ainda enfrenta dificuldades internas para suprir sua demanda com produção própria.
Apesar disso, os derivados do suco, como óleos essenciais e farelos, continuam penalizados por tarifas de 50%. Essa diferença de tratamento acendeu o alerta para a importância de novos acordos bilaterais, que garantam mais competitividade aos produtos do setor citrus nacional.
União Europeia freia compras
Por outro lado, a União Europeia reduziu em 8% seu volume de compras, como resposta a dois fatores: os altos preços praticados anteriormente e os problemas de qualidade registrados na última safra.
Essa retração é vista com cautela, já que o bloco europeu é historicamente o principal destino do suco de laranja brasileiro. A diminuição no ritmo de compras reforça a necessidade de inovação e reposicionamento do setor frente a novos desafios logísticos e comerciais.
Fim de uma safra marcada pela instabilidade
A safra anterior (2024/25), encerrada em junho, foi a de menor volume exportado em quase 30 anos, mas também a que gerou a maior receita da história: US$ 3,48 bilhões — um crescimento de 28,4% na comparação com o ciclo anterior. Isso se deu, principalmente, pela oferta restrita do produto, que elevou os preços mesmo diante das tarifas adicionais impostas pelo governo norte-americano.
Menos euforia, mais estratégia
Segundo os pesquisadores do Cepea, o setor vive agora uma transição delicada. Em suas palavras:
“Entre resiliência e prudência, o setor exportador entra em nova fase: menos euforia, mais estratégia. O futuro dependerá da inovação e da conquista de mercados em um ambiente de margens estreitas.”
Com uma safra que começa com cautela e novas configurações no mercado externo, os próximos meses devem ser decisivos para definir a força do suco brasileiro diante de uma concorrência global acirrada e de um cenário comercial cada vez mais imprevisível.







