Segundo a Abipesca (Associação Brasileira das Indústrias de Pescados), 58 contêineres com 1.160 toneladas de pescados que estavam prontos para embarque perderam os compradores e deverão retornar ao país.
“Não há como competir com um acréscimo de 50% no preço final. Essa tarifa inviabiliza totalmente a exportação da tilápia sul-mato-grossense”, avalia Jaime Verruck, secretário da Semadesc (Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação).
Mato Grosso do Sul perde mercado e enfrenta superoferta interna
O Estado está entre os cinco maiores exportadores de tilápia do Brasil, com o mercado americano sendo destino de 90% do produto exportado. Apenas em 2024, MS enviou 438,9 toneladas, movimentando US$ 1,72 milhão com o filé e carnes congeladas do peixe.
Com a barreira comercial imposta, a situação se torna crítica: o produto não chegará a tempo aos EUA antes do novo imposto vigorar, e a carga pronta para exportação terá que ser realocada no mercado interno, gerando superoferta, queda de preços e pressão sobre frigoríficos e pequenos produtores.
“A gente vai ter um volume elevado de produto no mercado interno de forma repentina, sem tempo hábil para reposicionamento estratégico. A cadeia toda será impactada”, afirmou Verruck ao Campo Grande News.
Frigoríficos preveem competição acirrada
Para empresas como o Frigorífico Best Fish, que não atuam diretamente com exportação para os EUA, o impacto virá indiretamente: com mais players disputando espaço no mercado interno, os preços podem cair — enquanto os insumos continuam caros.
“Nossa preocupação é que empresas que exportavam agora comecem a disputar espaço aqui dentro. Vai aumentar a competitividade. A gente torce pra que, ao menos, os insumos tenham redução de preço também”, afirmou Heser Fagundes, proprietário do frigorífico.
Setor pede prorrogação da tarifa ou abertura do mercado europeu
Diante da gravidade do cenário, a Abipesca está pressionando o governo federal para priorizar a abertura do mercado europeu, como alternativa estratégica às exportações de pescados.
Já em Mato Grosso do Sul, a principal reivindicação é que o governo brasileiro negocie a prorrogação da tarifa, respeitando os contratos de exportação já firmados antes da imposição da nova regra.
“A retirada total da tarifa é o ideal, mas sabemos que o momento é delicado. O mínimo seria garantir que os contratos em andamento fossem respeitados. Essa tarifa pega de surpresa cargas que já estavam prontas para embarque”, destaca Verruck.
EUA: 70% das compras de pescado e 90% da tilápia brasileira
Segundo dados da Peixe BR (Associação Brasileira de Psicultura), os Estados Unidos respondem por 70% de todo o mercado externo de pescado brasileiro — e, no caso da tilápia, por 90% das compras internacionais.
Em 2023, o país comprou mais de US$ 37 milhões em tilápia brasileira. Com a tarifa de 50%, os custos se tornam proibitivos para os importadores americanos, que devem procurar outros fornecedores ou abandonar a importação.
Uma crise silenciosa, mas com alto impacto
Com a imposição da tarifa, o Brasil perde competitividade, receita e previsibilidade comercial. O produtor de tilápia, que vinha ganhando força no cenário internacional, agora vê-se encurralado por um fator político-comercial que foge ao seu controle.
O caso da tilápia de Mato Grosso do Sul expõe mais uma consequência direta da crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos, e reacende o debate sobre a necessidade de uma política externa pragmática e equilibrada, que proteja quem produz.