27/09/2025 02:35

Tarifaço americano reorganiza exportação de ovos: Japão supera EUA como maior comprador brasileiro

Volume embarcado pelos Estados Unidos cai 60% em agosto após imposição de tarifas, segundo estudo da USP

As exportações brasileiras de ovos enfrentam o segundo mês consecutivo de queda em agosto de 2025, reflexo direto das tarifas impostas pelo governo norte-americano sobre produtos brasileiros. O impacto já provocou uma reorganização no mercado internacional, com o Japão superando os Estados Unidos como principal destino da proteína brasileira.

EUA perdem liderança para o Japão

Os Estados Unidos, que eram o principal comprador de ovos brasileiros desde março deste ano, compraram apenas 2,13 mil toneladas de ovos in natura e processados em agosto – volume 60% menor que o registrado em julho. Apesar da queda, a marca ainda representa um crescimento de 72% em relação a agosto de 2024.

O Japão aproveitou a retração americana e tornou-se o principal destino da proteína nacional no último mês, adquirindo 578 toneladas de ovos, volume 29% superior ao de julho, segundo análise do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq-USP.

Primeira queda ocorreu em julho

O balanço das exportações brasileiras de ovos interrompeu o movimento de alta que vinha sendo observado no primeiro semestre de 2025. O primeiro recuo ocorreu em julho, com queda de 20% nas vendas para o exterior, motivado pela redução de 31% na quantidade embarcada para os Estados Unidos.

Segundo o Cepea, o Brasil embarcou 5,26 mil toneladas de ovos in natura e processados em julho, volume 20% inferior ao de junho. Mesmo com a redução, o volume ainda supera em 305% o montante embarcado em julho de 2024.

Desempenho anual ainda positivo

Apesar dos recuos mensais recentes, o desempenho anual do setor permanece robusto. De janeiro a agosto de 2025, o Brasil exportou cerca de 32,3 mil toneladas de ovos in natura e processados – volume 192,2% acima da quantidade registrada nos oito primeiros meses de 2024.

O total já embarcado em 2025 supera em 75% todo o volume exportado no ano anterior, demonstrando que, mesmo com as dificuldades recentes, o setor mantém trajetória de crescimento significativa.

Mercado doméstico em recuperação

No mercado interno, as cotações dos ovos iniciaram agosto em alta na maioria das regiões acompanhadas pelo Cepea. O movimento foi impulsionado pelo fim das férias escolares, que favoreceu a retomada da demanda, e pelo período de início do mês, quando a população costuma estar mais capitalizada.

Histórico de volatilidade em 2025

O mercado de ovos enfrentou significativa volatilidade ao longo de 2025. Os preços atingiram o menor patamar diário nas principais regiões produtoras em junho, após um movimento de queda iniciado em abril, quando os valores alcançaram recordes com alta de 40%.

A instabilidade foi agravada pelas restrições às importações de produtos avícolas após o primeiro registro de gripe aviária no país em granja comercial. Embora o Brasil já tenha recuperado o status de livre da doença, a retomada total das importações ainda não foi completamente reestabelecida.

Cotações regionais em junho

As quedas de preços em junho foram generalizadas nas principais praças:

  • Santa Maria de Jetibá (ES): Ovos vermelhos caíram de R$ 207 para R$ 185 a caixa com 30 dúzias (queda de 10,6%)
  • Bastos (SP): Ovos brancos recuaram de R$ 169,52 para R$ 159, e vermelhos de R$ 191 para R$ 177
  • Grande São Paulo: Brancos diminuíram de R$ 179 para R$ 164, e vermelhos de R$ 199,95 para R$ 182
  • Recife: Vermelhos passaram de R$ 185 para R$ 161 (queda de 13%)
  • Minas Gerais: Vermelhos caíram de R$ 213 para R$ 188

Pressões nos custos de produção

Os produtores enfrentam desafios significativos com o aumento dos custos de insumos principais como milho e farelo de soja em 2024, além de gastos adicionais com embalagens e necessidade de investimentos em espaços climatizados.

“Diante desse cenário desafiador no ano passado, os produtores enfrentaram margens reduzidas. Agora, em 2025, com uma menor disponibilidade de ovos, foi possível repassar esses reajustes de forma mais intensa para as cotações”, observa o Cepea.

Adaptação estratégica do setor

O caso das exportações de ovos ilustra como o setor agropecuário brasileiro demonstra capacidade de adaptação diante de barreiras comerciais. A rápida reorganização dos fluxos comerciais, com o Japão assumindo a liderança antes ocupada pelos EUA, evidencia a diversificação de mercados como estratégia fundamental.

Mesmo enfrentando volatilidade de preços e pressões de custos, o setor ovícola brasileiro mantém crescimento expressivo no mercado internacional, consolidando sua posição como importante fornecedor global da proteína.

O mercado de ovos brasileiro continua se adaptando às mudanças comerciais internacionais, demonstrando resiliência apesar dos desafios tarifários e sanitários enfrentados em 2025.