Tarifaço dos EUA pode encarecer ou baratear o preço dos alimentos no Brasil?

Mais de 600 itens ficaram de fora da tarifa de 50%, mas alimentos estratégicos seguem na lista; efeitos podem chegar ao consumidor brasileiro de forma indireta.

O tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros vendidos aos Estados Unidos entra em vigor no próximo 6 de agosto, após decreto assinado pelo presidente americano Donald Trump. A medida afeta diretamente setores estratégicos do agronegócio nacional e acendeu o alerta para os impactos indiretos no mercado interno.

Apesar da abrangência, mais de 600 produtos foram excluídos da tarifa, entre eles aeronaves, petróleo, suco de laranja e alguns bens industriais. No entanto, carne, café e tilápia — itens relevantes na pauta de exportação brasileira — permanecem na lista e podem sentir reflexos significativos.

Impacto no Brasil será indireto

Especialistas explicam que a sobretaxa será paga pelos importadores norte-americanos, não pelos produtores brasileiros. Contudo, caso os EUA reduzam as compras de determinados produtos, a oferta interna pode aumentar, provocando oscilações nos preços para o consumidor brasileiro.

“A tarifa não impacta diretamente o bolso do brasileiro. Mas, ao redirecionar exportações para o mercado interno, é possível que haja oscilações, dependendo do produto e da capacidade de absorção do mercado local”, explica Wagner Yanaguizawa, especialista em proteína animal do Rabobank.

Carne: possível queda temporária, mas tendência de alta

No caso da carne bovina, o preço pode cair momentaneamente, caso os frigoríficos redirecionem lotes que seriam enviados aos EUA para o mercado interno.
No entanto, especialistas alertam que esse efeito deve ser passageiro.

A China, principal compradora da carne brasileira, também pressiona por preços menores, o que pode adiar aumentos. Mas, com menos abates previstos para o segundo semestre, a tendência é de alta gradual nos preços internos.

Café: estabilidade no curto prazo

Para o café, o impacto inicial deve ser mínimo.
O setor acredita que exportadores e importadores encontrarão formas de manter o fluxo de comércio com os EUA, evitando sobras de produto no mercado interno.

Em julho, o preço do café registrou a primeira queda em um ano e meio (-0,36%), influenciado por expectativa de boa safra do tipo robusta. O médio prazo, porém, permanece incerto e dependerá da duração do tarifaço.

Tilápia: queda no curto prazo, incerteza no futuro

A tilápia é o produto mais sensível ao tarifaço. Com 90% das exportações destinadas aos EUA, a medida pode redirecionar grandes volumes para o mercado interno, pressionando preços para baixo no curto prazo.

No entanto, a queda no preço ao consumidor deve ser lenta e gradual, passando por produtores, frigoríficos e distribuidores antes de chegar ao varejo. Especialistas alertam que, se a produção for reduzida no médio prazo, os preços podem voltar a subir.

O efeito do tarifaço no mercado interno dependerá da duração das tarifas, da capacidade de redirecionar exportações para outros países e do ajuste da produção interna.
Enquanto isso, o governo brasileiro busca, setor a setor, negociar exceções e minimizar impactos.

“Mais de 600 itens ficaram de fora, mas setores estratégicos como carne, café e tilápia ainda exigem atenção. A resposta será calibrada de acordo com cada cadeia produtiva”, afirmou fonte do Ministério da Fazenda.

O tarifaço não atinge diretamente o consumidor brasileiro, mas seus reflexos podem ser sentidos nos próximos meses, especialmente em produtos com alta dependência do mercado americano.