A gestão do ex-prefeito André Nezzi deixou um saldo devedor de R$ 582.464,10 em contrato firmado com a empresa Royal Soluções Comércio & Serviços Ltda., referente à aquisição de material escolar para a rede municipal de ensino no exercício de 2024.
Dos R$ 925.166,90 empenhados pela gestão anterior, apenas R$ 342.702,80 foram pagos até o fim do ano. O contrato foi firmado com a Royal, empresa sediada em Campo Grande/MS, que figura em diversas licitações no estado.
Nova gestão, novo fornecedor
A atual gestão, comandada pela prefeita Lurdes, não efetuou pagamentos à Royal Soluções. Em 2025, a administração realizou uma nova aquisição de material escolar, com outro fornecedor selecionado por licitação, no valor de R$ 246 mil. Essa contratação foi feita por meio de licitação própria e não possui vínculo com o contrato firmado anteriormente com a Royal.
Empresa possui 94 atividades econômicas registradas
A Royal Soluções Comércio & Serviços Ltda., inscrita sob o CNPJ 34.049.507/0001-51, tem como atividade principal o comércio atacadista de produtos alimentícios. Contudo, segundo dados da Receita Federal, a empresa possui 93 atividades econômicas secundárias (CNAEs), que incluem desde o fornecimento de material escolar e produtos de limpeza até móveis, equipamentos médicos, instrumentos musicais e prestação de serviços como pintura, instalação elétrica e climatização.
A amplitude das atividades habilita a empresa a participar de licitações em múltiplos segmentos, o que gera questionamentos quanto à real capacidade técnica e operacional para execução de contratos tão variados.
Sanções administrativas
Em outubro de 2024, a Royal foi alvo do Processo Administrativo nº 002/2024, instaurado pela Prefeitura de Santa Rita do Pardo/MS. A empresa foi acusada de não entregar os produtos contratados, mesmo após reiteradas notificações da administração municipal.
A apuração resultou em sanções severas: multa de 30% sobre o valor do contrato, declaração de inidoneidade e impedimento de participar de novas licitações com o município, conforme prevê a Lei nº 14.133/2021, que regula as contratações públicas.
Ligação familiar com investigado na Operação Malebolge
A Royal também é mencionada em matéria publicada pelo portal Midiamax (26/02/2025), em razão de contratos firmados com a Prefeitura de Água Clara/MS. A sócia da empresa, Tânia Maria Mayer da Silva, é mãe de Mauro Mayer da Silva, preso na Operação Malebolge — investigação conduzida pelo Gaeco que apura fraudes em licitações e contratos públicos nos municípios de Água Clara e Rochedo.
Segundo a reportagem, apenas em um único dia (fevereiro de 2025), a Royal recebeu R$ 268 mil em empenhos referentes ao fornecimento de merenda escolar. Após a prisão de Mauro, a prefeitura de Água Clara suspendeu os contratos com a empresa.
O que é a Operação Malebolge?
A Operação Malebolge foi deflagrada pelo Gaeco/MS (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) e investiga um suposto esquema de fraudes em licitações, superfaturamento e direcionamento de contratos públicos.
A operação apura a atuação de empresas de fachada ou multiatividades, possíveis relações familiares simuladas e a conivência de agentes públicos em prefeituras do interior do estado. Entre os presos está Mauro Mayer, apontado como articulador de contratos fraudulentos com o poder público.
Após a operação, várias administrações suspenderam contratos com empresas envolvidas, incluindo a Royal Soluções.
Monitoramento e medidas em Caarapó
A Prefeitura de Caarapó afirmou que está avaliando individualmente todos os contratos herdados da gestão anterior, com especial atenção para fornecedores que tenham histórico de sanções ou envolvimento em investigações. O saldo devedor com a Royal segue em análise, e medidas administrativas e jurídicas estão sendo consideradas pela Procuradoria Municipal.